quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Natália, 20 anos, PR – Candidata 005 ao Miss Marijuana 2012!


 

1] Você trabalha ou estuda? Qual sua profissão ou que tipo de atividade social exerce?

Atualmente trabalho como promotora de eventos, além da militância.
 
2] Já fumou maconha? Como se deu essa experiência e o que isso significou para você?
Desde muito nova tenho contato com a erva, aos 9 anos morava com meus avós e dividia o quarto com minha irmã e tia, de 15 e 16 anos respectivamente. Elas já eram grandes fãs da Mary e escondiam pequenas quantias debaixo do meu colchão, local isento de qualquer desconfiança do meu avô. Lembro-me dele só as deixar saírem se me levassem junto, sob a crença de que assim elas se comportariam. Então, muito precocemente comecei a conhecer a vida noturna.
Passei algumas noites da minha pré-adolescência com elas na ‘Praça do Canário’, local badalado de Cascavel no que diz respeito ao comércio e uso da querida Cannabis. Lembro de me divertir em meio à rodinha de amigos, todos bem mais velhos do que eu, tocando violão e fumando aquele cigarro cujo cheiro me agradava muito. Eu achava incrível a habilidade que eles tinham pra enrolar aquele treco.
Cantarolavam Raulzito e Planet Hemp pra mim, que tinha na parede do quarto dezenas de pôsters do KLB (sim, meu passado me condena), me zoando e chamando de ‘de menor alucinada’. Não entendia as músicas, não entendia os papos nem as risadas... Mas como eu adorava aquilo!
Foi nessa fase da vida onde comecei a ouvir constantemente da minha tia “Se algum dia você pensar em fumar maconha e a primeira vez não for comigo, eu te pego! Se eu souber que você fumou com outra pessoa, te dou uns tabefes e conto pra sua mãe, entendeu né?’ Sim, eu entendi.
E foi com ela que, aos 14 anos, finalmente mandei pra mente aquela fumaça tão deliciosamente perfumada. Tive medo, fiquei nervosa, tossi pra caralho, mas logo relaxei e ri... Ri muito, ri até doer a mandíbula e sentir meu abdômen reclamar. Ri de mim, ri dela, ri dos quadros na parede, ri da minha própria risada e relaxei.. senti paz, alívio, felicidade.
Ela pegou o violão e começou a tocar alguns de seus clássicos do rock favoritos, conversamos sobre a vida, sobre nossos amores da época, sobre coisas que nos faziam felizes. Saí de lá e voltei para a minha casa com a certeza de que aquele baseado não seria o último.
Com muitas dúvidas sobre tudo o que sempre ouvi de mal relacionado aquilo que estava agora passeando em minha mente. Quantas brigas vi em casa com minha tia e irmã por causa dessa tal ‘erva do capeta’, quantos choros e surras... Lembrei-me dos momentos nas rodinhas de amigos, da felicidade e risos e simplesmente não conseguia entender, eles não podiam estar falando da mesma coisa.
Senti uma fome descontrolada e fui comer pão com margarina – O pão com margarina mais suculento e delicioso que já comi em toda a minha vida.
No fim das contas, anos mais tarde ela acabou contando pra minha mãe. Nunca neguei, eu tinha certeza de mais de que não estava errada para me omitir. Ao invés de esconder meus baseados usei a cabeça. Não foi fácil, foram anos de discussão, conflitos, debates e argumentação até chegar ao ponto em que cheguei.
Jamais imaginaria, nos tempos em que minha irmã e tia apanhavam de cinto ao serem flagradas de olhos vermelhos, que algum dia eu poderia chegar ostentando e exibindo em casa uma tatuagem da folhinha verde e arrancar elogios – e não xingões – de todos. Jamais imaginei poder conversar com a minha mãe ao mesmo tempo em que bolo e fumo meu baseado.
Receber minha mãe em minha casa, mostrar pra ela meus pézinhos e pegá-la admirando-os... só eu sei o quanto isso é gratificante.
Não quis simplesmente fazer minha família engolir que eu era maconheira e ponto, quis ir mais longe. Foi através de documentários, livros, reportagens e argumentos embasados em fatos científicos que consegui mudar a visão distorcida que minha família tinha sobre maconha.
Graças a isso é que hoje tenho o respeito e admiração de todos eles, mesmo quando estou com meu baseado entre os dedos. Todos têm total conhecimento sobre minha posição de militante, sobre todos os vídeos que tenho na internet falando sobre Maconha. Sabem que não tenho medo de me expor e debater com quem quer que seja sobre o grande erro que é a proibição e criminalização da Cannabis.
Enfim, acho que me empolguei... Mas é isso, a Maconha pra mim é muito mais do que uma simples droga recreativa. É um ideal, a possibilidade de um mundo melhor no qual eu acredito e pelo qual eu luto com muito amor.
Não tenho receio nenhum em dizer que devo a ela grande parte do que sou e da mente e conhecimento que possuo hoje. Afinal foi ela quem me ajudou a me livrar dos pôsters do KLB na parede! Hahahaha
 
3] Qual a sua opinião a respeito da mudança na legislação brasileira especificamente em relação à cannabis?
Cada vez mais o Brasil – e o mundo - está descobrindo que a proibição da Cannabis é falha, baseada exclusivamente em preconceito e exploração do mercado. Não vou falar aqui só do meu direito de fumar meu baseado, mas sim dos milhares de utilizações industriais de uma espécie de cannabis que foi tirada de nós puramente por interesses econômicos e de monopólio do poder. Quem é maconheiro de verdade sabe do que eu to falando, to falando do Cânhamo.
Em bom português, Cânhamo é uma espécie de maconha que não serve para ser fumada por não conter nenhum poder psicoativo - NÃO É DROGA. É matéria prima para inúmeras áreas da indústria. Não agride o solo, é barata, sustentável e lucrativa, muito lucrativa.
E nós, brasileiros, devemos muito a ela, pois só existimos graças as Velas de Cânhamo da embarcação que trouxe nosso queridíssimo Pedro Álvares Cabral até aqui. Se o argumento principal da proibição é que Maconha faz mal a saúde por que você acha que, o Cânhamo que não tem nada a ver com o baseado, também é proibido?
Já te ocorreu que eles queriam tirar do povo uma possibilidade de mercado gigantesca, concorrente para a maioria das indústrias existentes hoje - petrolífera, têxtil, alimentícia, materiais de construção, automobilística e mais uma porrada delas... Será? Não, ela foi proibida pra zelar pela sua saúde e segurança, lógico!
Mas cadê essa segurança? Graças à proibição ela é cada vez mais escassa, falha e inútil. O tráfico só se fortalece, a cada ano que passa mais armamentos pesados entram nas favelas, mais crianças tem sua infância e inocência roubadas pelas mãos de traficantes. A Lei falhou e só fez estimular a propagação da violência e instigar a curiosidade dos jovens, estimulando cada vez mais o consumo.
O resultado são cadeias superlotadas de pequenos traficantes, que muitas vezes vivem na miséria, sem educação e sem qualquer perspectiva de vida se veem obrigados a migrar para a vida do crime. Eles nada mais são do que coitados, assim como nós, explorados e injustiçados por uma política que só visa o benefício de poucos, que não investe em educação, pois sabe que um povo educado e inteligente não se submete nem aceita tanta mentira e injustiça.
Todos nós aqui sabemos que os verdadeiros barões do tráfico não estão nas favelas, com a camisa amarrada na cabeça, descalço e com metralhadoras em mãos. Estão em condomínios de luxo, carros blindados, mansões milionárias. Os verdadeiros traficantes estão em seus gabinetes, legislando e enriquecendo a base da ignorância do povo.
Quantos já perdemos para o câncer enquanto já é comprovado que a Cannabis Cura o Câncer? Já sabemos da sua eficácia em tratamento de N doenças e certamente ainda descobriremos muitas mais! E é exatamente isso que, em minha opinião, os poderosos não querem. Um povo doente é um povo manipulável.
Porque migrar o lucro bilionário do tráfico para os cofres públicos? Porque usar esse dinheiro em educação, saúde e desenvolvimento? Porque usar os bilhões de reais que o comércio de Cannabis movimenta ilegalmente para financiar estudos e pesquisas com fins medicinais? Pra que fazer tudo isso quando se, graças à manipulação de informações, a própria população é a favor dessa guerra urbana?
Pra mim, mudar a legislação é preciso, mas o buraco é bem mais embaixo.
 
4] Você já participou da Marcha da Maconha? Como foi?
Ano passado foi minha primeira participação presencial. Um dos motivos de ter me mudado para Curitiba – PR foi para finalmente poder participar da March, que já havia tentado organizar na minha cidade mas sem nenhum sucesso.
Participei das reuniões da organização e inclusive cedi minha casa para que tais acontecessem. Foi realmente mágico pra mim estar ali, finalmente nas ruas gritando e lutando pela causa que, não tenho o menor receio em afirmar, deu sentido a minha existência.
Não tinha muita gente, mas os que estavam lá representaram e sabiam muito bem o que estavam defendendo.
 
5] Já tentou plantar Cannabis? Qual sua opinião sobre o cultivo caseiro?
Já por duas vezes. A primeira resultou num acidente: a lâmpada estava frouxa e caiu acesa em cima da minha mariazinha... tadinha, fritou!
A segunda tentativa foi mais feliz, consegui vegetar 8 pezinhos, mas só 3 cresceram fortes e vingaram. Um macho e duas fêmeas. O macho ficou de decoração na sala de casa por alguns dias. Infelizmente meu espaço era pequeno e não tive estrutura e tempo o suficiente para tocar adiante com as fêmeas... Mas já serviu de experiência para a próxima vez.
O Cultivo é a nossa principal arma contra o tráfico e a violência. Façamos uma comparação simples: O tabaco é altamente tóxico, nocivo e mortal, todos sabem disso. Mas você não consegue produzir seu próprio cigarro em casa, você precisa que alguém faça isso em grande escala e o venda para você. Com isso as grandes empresas retêm o lucro e o governo, é claro, fica com a sua fatia bem gordinha.
Maconha á uma erva daninha! Cresce em qualquer lugar, o governo e as grandes empresas simplesmente não tem como controlar e monopolizar a produção. Por que é que eles vão legalizar um produto que dá muito mais lucro se for ilegal? Por que é que eles vão deixar de ter o lucro certo do tráfico?
Poucos sabem mas em 1991 a Souza Cruz patenteou uma marca de nome ‘Marley’. O que você acha que eles esperam comercializar com essa marca? Vão encher de toxinas, e porcarias e nos enfiar guela a baixo! Tudo bem sou a favor da regulamentação e da venda restrita tal como o cigarro e o álcool, mas eu também não quero dar mais dinheiro para os deputados enfiarem nas cuecas. Quero ter o direito de não financiar o tráfico nem a corrupção. O cultivo caseiro é nossa maior arma e um direito legítimo, temos que lutar por ele!

 

6] Quais foram os últimos três livros que você leu? E qual está lendo atualmente?

O Diário de Anne Frank

Pólvora,Chumbo e Sexo – Tico Santa Cruz

Misto Quente – Charles Bukowski

Atualmente não estou lendo nenhum, preciso achar aquele que me faça querer devorá-lo.

 

7] Porque você acha que merece ser eleita a Miss Marijuana?

Porra, na moral mesmo? Eu mereço pra caralho! Não por ser a mais bonita, porque com certeza eu não sou, mas espero que o concurso vise o mais importante.

Além de ser a segunda vez que participo do concurso, acho que mereço por tudo que passei e fiz pra começar a legalização pela minha família, pelo tanto que me exponho – e com orgulho! – em defesa da causa. Já tive tantos problemas pessoais relacionados a isso e nunca desisti, nunca me escondi ou me calei.

Já fui demitida por isso, já saí de casa por isso. Já discuti várias vezes com minha sogra e sogro que são fanáticos religioso, tentando fazê-los entender que não sou uma drogada inválida.

Todos a minha volta sabem da minha posição e eu faço questão de sempre debater, com qualquer um que seja. Vou com meus brincos de folha a qualquer lugar, inclusive em entrevistas de trabalho – inclusive acho que foi esse o motivo de não ter passado na última... hehehe.

Sei que eu não preciso me omitir pois não sou eu quem estou errada, é a lei, é a crença popular que foi manipulada e precisa ser corrigida com urgência! Sinto que tenho que fazer a minha parte, mesmo que não atinja grandes proporções eu tenho certeza que já fiz muita gente repensar suas opiniões sobre a Cannabis.

Tenho um canal no youtube no qual posto vídeos falando sobre o erro que é a proibição da maconha, me exponho e falo o que penso, sem medo de represálias ou de más consequências. (Vídeos aqui e aqui!)

Sei que muitas meninas também são ativistas e merecem o título, mas eu realmente lutei muito e luto todos os dias, no meu dia-a-dia, por esta causa.

Queria poder socar o mundo inteiro na cara e dizer: ‘ACORDA! Tudo o que fomos obrigados a acreditar até hoje é uma mentira! Há pessoas morrendo todos os dias por engano!’. Mas infelizmente não posso. Então procuro fazer a minha parte sempre, e sei que um dia hei de colher os frutos. Nossa vitória não será por acidente!

Ah, e mais um motivo: Quantas candidatas tem tatuado na pele uma folha de maconha? Eu tenho! Acho que mereço né?

 

8] Diga sua música favorita para a hora do chá verde.

Road To Zion – Damian Marley. Deliciosamente envolvente e chapante.

 

9] Desde quando você conhece o Hempadão? O que mais você curte no blog?

Desde o início de 2011. Curto a maneira sensata como o blog trata dos assuntos relacionados à Cannabis, trazendo informação e promovendo o debate. Não é só um bando de maconheiros dizendo ‘legalizem!’. São pessoas inteligentes com argumentos embasados em fatos lutando por um ideal.

 

10] Alguma vez você sofreu repressão policial por fazer uso de substância ilícita? Como foi?

Nunca tinha sofrido até me mudar para Curitiba, e tenho que dizer que foi uma viagem muito louca, digna de ser detalhada minuciosamente!

Foi em dezembro do ano passado, um dia antes da minha festa de aniversário. Estávamos eu e um amigo aqui em casa preparando tudo, bem no finalzinho da tarde olhamos para o sol caindo e pensamos: ‘Vamos fumar um ali no parque?’ Fomos e resolvemos deixar os flagrantes em casa, levamos só o baseado. Pelo menos eu achava que tinha deixado né.

Lá encontramos um outro brother e começamos a sessão. Baseado vai, baseado vem, chegou na minha e quando eu ia colocar o baseado na boca uma viatura da GM vira a esquina. Só tive tempo de mandá-lo pra longe e ouvir ‘Mão na cabeça, mão na cabeça!’. Gelei. Pro meu azar, além de ter uma policial feminina ela era evangélica, daquelas fanáticas mesmo sabe? Me revistou – na verdade quase me estuprou! - e encontrou na minha bolsa uma latinha que ganhei de presente na Itália, com o desenho da folha e os dizeres I’m lovin it!, com algumas pontas dentro. Ficou louca, começou a falar que eu era uma assassina de crianças, que eu financiava o tráfico e todo aquele blá blá blá... Eu como não sou de ficar quieta, comecei a dialogar na maior tranquilidade com a guarda perguntando a ela de que maneira eu financiaria o tráfico se tivesse uma planta em casa, se ela tinha conhecimento das propriedades medicinais dessa droga e enfim... Sem argumentos, ela me algemou.

A essa altura meus amigos já tinham sido revistados e estavam batendo um papo com o guarda masculino, super simpático por sinal. Ficava gesticulando perguntando como eles enrolavam aquilo, chegou a dizer que já tinha experimentado mas ficou ‘besta e com sono’ e a todo o tempo olhava o celular, falando que queria ir embora logo pois sua esposa o estava esperando para irem a uma festa de casamento.

Ele nem chegou a achar o flagrante que o outro brother tinha no tênis.

Eles foram dispensados e eu, colocada na viatura algemada com as mãos para trás, o próprio guarda quando viu a cena falou para a mulher: ‘Sério que você algemou ela?’. Segui tranquila até a delegacia pois sabia que não podia ser incriminada com 6 pontas, dentro da viatura conversei mais um pouco enquanto ela se desesperava ao ficar sem respostas. Foi incrível, eu estava certa e ela sabia disso, o parceiro dela sabia disso! Foi aí que ela usou um argumento super inteligente para me calar: ‘Você quer se presa por desacato?’ Ótimo argumento né? Como eu ia querer competir com o abuso de autoridade? Me calei e fiquei ouvindo a conversa dos dois sobre o tal casamento até a delegacia.

Lá me senti uma atração, quando entrei algemada todos os policiais vieram até a porta da sala onde eu estava e ficavam perguntando ao guarda que estava me vigiando: ‘É roubo?’

Ele: ‘Não, um baseado’

Os policiais riam, riam não de mim, mas riam da policial maluca que tinha algemado uma menina por um baseado. O guarda ficou ali conversando comigo, e volta e meia soltava para algum dos policiais na porta: ‘Tenho que ficar aqui vigiando a meliante, afinal olha só como ela é perigosa!’ rindo. Eu não conseguia acreditar naquilo, não parecia real. Fui até a escrivã, que no boletim afirmou que eu portava ‘quantidade ínfima de maconha’ e aumentou de 6 para 15 pontas. Assinei o meu Termo Circunstanciado orgulhosa de assumir perante a lei que sou maconheira!

Perguntei sobre a minha latinha, afinal tinha grande valor sentimental e era totalmente legal, alguém pagou impostos por aquilo. A escrivã recuou, disse que não poderia me devolver, mas eu sou insistente e contei toda a trajetória daquele objeto.

Disse que tinha ganhado do meu pai quando fui visitá-lo na Itália, que ela tinha sido comprada em Londres e que era algo importante pra mim, além de não ser uma droga e sim um simples objeto.

Saí de lá com a latinha e uma intimação para comparecer a uma audiência com o juiz, e juro que a única parte ruim desse dia foi quando encontrei meu namorado na saída da delegacia com AQUELA CARA de quem queria me matar.

Mas no final deu tudo certo, tive de comparecer a uma conversa com um psicólogo e acho que vocês já conseguem imaginar como foi essa conversa né?

 

11] Acha que o usuário de maconha ainda sofre muito preconceito no Brasil? Você já passou por isso?

Infelizmente sofre muito sim, não como há 10 anos atrás, mas sofre. A sociedade ainda é muito hipócrita e alienada, enquanto ela não se permitir o benefício da dúvida o usuário vai sofrer.

Aquele estereótipo do maconheiro vagabundo, bandido e o rótulo de ‘alimentadores do tráfico’ só vai ser vencido quando conseguirmos fazer com que o povo abra os olhos e se permita enxergar que foi totalmente enganado por décadas.

Quando conseguirmos que as pessoas percebam que quem alimenta o tráfico é a proibição, que os governantes aprenderam com a Lei Seca nos EUA em 1920 que se você quer lucrar com uma coisa é só fazê-la ilegal.

Não tem diferença nenhuma entre eu fumar o meu baseado e você tomar o seu vinhozinho. Ambos estamos nos drogando.

Sofro preconceito todos os dias com os familiares do meu namorado, já tive vários conflitos com meu cunhado, sogro e sogra. Eles acham que sou uma drogada que precisa de ajuda, que não vai ser nada na vida, que está se destruindo. O engraçado é que meu sogro é louco por cerveja, bebe sempre e adora ‘cervejas gourmets’ mas não aceita o meu argumento de que ele é drogado também.

Critica minhas postagens no facebook e meus vídeos, mas nunca se deu ao trabalho de ler se quer UMA das matérias falando sobre os benefícios da maconha. É muito difícil, pois amo o filho deles, moramos juntos, temos planos de uma vida toda e é difícil saber a opinião deles sobre mim.

Mas conseguimos estabelecer uma relação de respeito depois de muitas discussões e constrangimentos e nem precisei parar de ir com os ‘polêmicos’ brincos de maconha nos almoços de domingo!

 

12] Você defende a legalização de todas as drogas? Por quê?

Com certeza. Partindo do básico: o Estado não tem o direito de dizer o que eu posso ou não fazer com o meu corpo e com a minha vida. Quem ele acha que é pra saber o que é melhor ou não pra mim? Ponto.

Mas se formos pensar mais afundo as drogas precisam ser legalizadas sim, todas. Pois só assim conseguiremos controlar sua produção e distribuição, tiramos totalmente o usuário das mãos dos traficantes e consequentemente os traficantes sucumbirão, sem dinheiro para importar armas a violência cairá bruscamente e nós finalmente poderemos tratar os dependentes como eles devem ser tratados, como pacientes, pessoas que precisam de ajuda e não de cadeia.

De quebra ainda poderemos extinguir – ou quase – o crack, que nada mais é que o lixo da produção de Cocaína, droga essa que é de uso e apreço milenar na cultura Peruana e Boliviana.

A folha de coca assim como a maconha não passa de uma planta, a manipulação humana é que a transforma nessa química tão perigosa. Ela também tem propriedades medicinais e terapêuticas, só está nas mãos erradas!

Certamente você já tomou ou conhece alguém que tomou Ritalina receitada por um médico, pois então. Conheci uns loucos italianos em Roma que esmagavam e cheiravam comprimidos de Ritalina, sim, o mesmo remédio que receitam para crianças aqui no Brasil.

Me diga quantas pessoas não são viciadas em medicamentos, quantos não morrem ou tem problemas de saúde? Quantas pessoas são viciadas em açúcar, quantas não morrem em decorrência disso? Qual é a diferença então?

A diferença é aquela que já citei aqui, se você pode lucrar o triplo com algo ilegalmente porque é que vai fazer legalmente?

13] Qual sua opinião sobre drogas como álcool e crack?

O álcool é a droga ‘inofensiva’ para a maioria das pessoas né? Todo mundo acha lindo se reunir pra tomar uma cervejinha, um whiskisinho, um vinho no inverno... Eu também adoro! O problema é a hipocrisia com que as pessoas aceitam o álcool, que é muito mais perigoso do que a maioria das outras drogas justamente por seu ar ‘inofensivo.’ Quantas pessoas morrem por dia em acidentes causados pelo álcool? Quantos dependentes se tornam agressivos e agridem suas esposas, seus filhos?

Álcool é uma droga perigosíssima que tem que ser usada com responsabilidade e infelizmente o que vemos hoje são cada vez mais crianças bebendo ou vítimas de pais alcoólatras, mortes, estupros e muitos crimes ligados ao etílico. A mídia bombardeia propagandas engraçadas, divertidas e sedutoras como se beber não fosse um risco, mas é. Não quer dizer que tenham que proibir o álcool, mas se todos sabemos que é algo tão perigoso porque é que a sociedade acha tão normal beber e tão absurdo fumar uma planta natural?

Já o crack é como eu disse antes, o lixo da produção de cocaína. O cúmulo da miséria, da autodestruição e talvez o grito de socorro de um povo que não aguenta mais ser explorado e maltratado.

Em um mundo sem oportunidades, sem expectativas, onde você é uma máquina de consumir desde o momento em que nasce até o momento em que morre, prazer extremo, barato e instantâneo parece tentador não é?

No geral usuários de crack são essas pessoas que não tiveram qualquer oportunidade na vida, que só conhecem a miséria e o abandono. Para essas pessoas, o crack é muitas vezes a única fonte de prazer e alívio de uma vida tão dura e sofrida, e o sistema simplesmente não pode perder essa que é a maior arma de extermínio de miseráveis já criada.

Eles sabem que podem combatê-lo, sabem como fazê-lo mas simplesmente não querem, pois além de ser conveniente adoecer e matar toda uma população pobre e ‘dispensável’, ainda se pode lucrar muito com isso!

 

14] Em quanto tempo você acha que a maconha vai ser legalizada no Brasil? Por quê?

Olha, eu estou bem empolgada com a maneira como as coisas andam indo. Maconha na televisão e nas grandes revistas, debates e cada vez mais pessoas influentes questionando e se posicionando. Claro, ainda falta muito mas acho que se continuarmos nesse ritmo em no máximo 4 ou 5 anos já poderemos exibir nossos pés de maconha nas janelas!

Mas pra isso acontecer precisamos nos unir e continuarmos argumentando com inteligência e embasamento com quem quer que seja aonde quer que seja. Não podemos ter vergonha, a hora é agora e não podemos deixar passar. Sou a favor de Marchas da Maconha todos os meses, de fazer pressão e barulho... Precisamos aproveitar a onda de questionamentos que foi acesa e mostrar que não vamos mais aceitar essa lei falha e mortal!

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